HMS Hermes, Atlântico Sul, 13 de Junho 1982 (Episódio 20)
“O dia começou com a informação de que outra ofensiva contra Stanley tinha ocorrido durante a noite. O John Rochfort e eu fomos seleccionados com uma missão algo periclitante muito antes do briefing da manhã. As Operações tinham descoberto aviões de transporte C-130 Hércules Argentinos na pista do aeródromo em Stanley. O objectivo da nossa missão era atacá-los com rockets antes do amanhecer. Eu e o John ficamos entregues de descortinar os pormenores da execução, e não gostávamos nem um bocadinho daquilo que nos esperava. Há muito que tínhamos esgotado aproximações tácticas novas a Stanley, mas ordens são ordens. Planeamos a missão, fizemos o briefing e aguardamos nervosamente pela autorização para descolar. Passada uma hora disseram-nos que a missão tinha sido cancelada – os Sea Harrier iriam abater os Hércules assim que descolassem. Infelizmente, a Marinha fez asneira. Enviaram um par de Sea Harrier para a área, á espera dos Hércules, mas lançaram o segundo par (para render o primeiro) demasiado tarde – e o Hércules escapuliu-se no intervalo. Desejei-lhes boa sorte. Muito mais tarde descobrimos que pelo menos oito C-130 passaram por Stanley nessa noite, e muitos dos voos foram de evacuação de feridos. Deveríamos ter compreendido essa situação mais cedo, no entanto, nesta fase da guerra, o cansaço e desgaste físico e psicológico era imenso – já não conseguíamos raciocinar direito.”
Um C-130 Hércules Argentino aproxima-se para aterrar nas Falklands. O contributo destas tripulações para o esforço de guerra foi absolutamente fenomenal. Trouxeram suprimentos vitais para as isoladas forças Argentinas em voos nocturnos a baixíssima altitude, evacuaram feridos para o Continente e ainda executaram perigosas missões de vigilância, mesmo até os últimos dias do conflito – tudo debaixo do nariz da Task Force da Royal Navy.
“Depois de mais algumas missões canceladas finalmente fomos requisitados para usar as bombas guiadas por laser em conjunto com o LTM (Laser Target Marker). Recebemos informação que, finalmente, um FAC (Forward Air Controller) estava em posição perto de Stanley com um LTM perfeitamente operacional, com bateria carregada e com rádio! O “Boss” descolou com o objectivo de destruir o quartel-general de uma companhia argentina. Fez dupla com o Mark e chegaram ao Ponto Inicial sem problemas. No primeiro ataque o FAC fez asneira, disparou o laser demasiado cedo, o que causou com que a bomba caísse “curta”. (Tínhamos avisado os FACs especificamente para este problema.) No segundo ataque tudo correu na perfeição e a LGB atingiu o alvo em cheio. Finalmente, conseguimos colocar a funcionar as LGB!
Logo de seguida, eu e o Beech recebemos ordem para atacarmos posições de artilharia no monte Tumbledown. Descolei com duas Paveway e o Beech actuava como um vigia de SAMs. Ao chegar perto do alvo o FAC alterou o Ponto Inicial que eu tinha planeado, por isso agora tinha de confiar nele completamente – não havia tempo para recalcular as aproximações em voo. Ao passar pelo novo Ponto Inicial percorri, durante uns momentos, paralelo a uma estrada onde conseguia ver vários veículos. Sem informações recentes sobre a localização das frentes de batalha não tinha certeza se eram tropas Inglesas ou Argentinas. E era desconcertante ver soldados saltar dos veículos e a apontar armas contra mim – mas não podia executar manobras evasivas, iria estragar a aproximação ao alvo. Executei uma subida suave, estabilizei por um momento e lancei a bomba; “bomba a caminho!”, gritei no rádio para o FAC. Virei á esquerda e, por uns instantes, voei em formação cerrada com aquela Paveway de aspecto ameaçador. Via claramente os rápidos movimentos do sensor no nariz a procurar ansiosamente pelo reflexo laser codificado. “Toca a sair daqui”, pensei eu, mergulhei para o monte mais próximo e fugi para Oeste. O Beech, como tínhamos combinado, voou sempre a cobrir as minhas “seis horas”. Não houve nenhum lançamento de SAM. “Líder Verde, mesmo na mouche! Grande tiro!”, foi a resposta do FAC. Repeti a manobra mas a segunda bomba caiu um pouco “curta”. Mas, o mais importante, o alvo foi atingido e destruído no primeiro ataque."
Finalmente, no dia 13 de Junho, o No. 1 (F) Squadron conseguiu fazer bom uso das bombas Paveway. O resultado foi surpreendente, a precisão e a facilidade de utilização deixou os pilotos dos Harrier maravilhados – além de tornar as missões de ataque muito menos perigosas. Desde que o FAC no solo designasse o alvo com um LTM, o Harrier podia lançar a bomba a média altitude, fora do alcance das armas AA ligeiras, e o sensor no nariz da Paveway fazia o resto.
"Não houve mais missões nesse dia e eu e o Beech regressámos ao Hermes ás 20h00. Nessa noite o ambiente e a disposição geral do pessoal do 1(F) Squadron era excelente. Tínhamos um stock substancial de LGB (se tivéssemos conseguido colocar a arma em serviço mais cedo…) e o futuro das nossas missões de ataque era um mar de rosas. A partir de agora, qualquer alvo que os FACs designassem, nós conseguiríamos atacá-lo com uma precisão devastadora. Depois de semanas a “arranhar” com armas inadequadas contra pequenos alvos camuflados impossíveis de ver, finalmente agora iríamos fazer o nosso trabalho devidamente - e com menores riscos para nós próprios.
Uma sequela deste ataque no monte Tumbledown ocorreu muitos meses depois em Londres numa reunião de veteranos das Falklands. Representantes de todos os Serviços estavam presentes e meti conversa com um grupo de NCOs dos Scots Guards. Mencionei o meu ataque com bombas laser no dia 13 de Junho no monte Tumbledown e descobri que eram eles os soldados que sobrevoei na aproximação ao alvo. Um deles disse-me alegremente;
“Oh sim, éramos nós Sir! Disparámos todos contra o seu avião – nos dois ataques!”
“Era prática corrente no Batalhão; se virem um avião a lançar uma arma – abram fogo!”
O facto da minha LGB se dirigir contra um alvo vários quilómetros á frente, na direcção dos Argentinos, aparentemente não fazia nenhuma diferença… Depois dos ataques que sofreram em Bluff Cove as nossas tropas não corriam riscos; na dúvida, abriam fogo sobre qualquer avião!"
Royal Marines posam para a foto algures nas Falklands. Como os pilotos dos Harrier do No. 1 (F) Squadron descobriram mais tarde, era prática corrente, nos dias finais do conflito no cerco a Stanley, os soldados dispararem contra qualquer avião que largasse uma arma. “No hard feelings…”